Se a utopia consagra um mundo ou um estado ideal, a distopia mostra exatamente seu oposto: estados ou regimes totalitários nos quais os princípios éticos de convivência civil são anulados, as relações interpessoais subvertidas, ou é exercido um controle absoluto sobre o cidadão, sobre suas expressões ou até em aspectos da sua íntima existência.
Encontramos distopias em muitos filmes de ficção científicas, inclusive em muitos blockbusters atuais de grande sucesso, mas, fiel à opção para cinema autoral e de arte, o Cineclube Torres selecionou deste tema tão especifico e infelizmente atual, um conjunto de obras dirigidas por mestres consagrados do cinema autoral mundial.
Assim junto com as analises e as reflexões obrigatórias sobre os elementos que caracterizam condições distópicas infelizmente tão próximas a certos aspectos da realidade atual, será também uma oportunidade para rever sob essa luz alguns grandes clássicos cinematográficos.
A Nouvelle Vague francesa está representada pelos seus expoentes máximos, Jean Luc Godard e François Truffaut, com respectivamente Alphaville e Fahrenheit 451. Alphaville, primeiro filme do ciclo, na próxima segunda dia 6 de Maio, às 20h, é um filme que transita entre ficção cientifica e policial com o icônico ator Dirk Bogarde numa sociedade dominada por máquinas e onde os sentimentos banidos, uma triste previsão do mundo tecnicista e virtual no qual nos encontramos. E se em Alphaville todos os pensadores são obrigados a viver na clandestinidade, em Fahrenheit 451 são os próprios veículos de conhecimento e expressão literária que são condenados à destruição pelo fogo, por uma tropa de bombeiros disfuncionais, que em lugar de apagar incêndios lançam para as chamas todos os livros e as obras impressas sequestradas. O título remete à temperatura necessária à combustão do papel e é adaptação de um celebre romance de Ray Bradbury.
Também adaptando uma obra literária, de Kafka, Orson Welles entrega para o enigmático ator Antony Parkins o papel de Joseph K. em “O Processo”, acusado de um hipotético crime num sistema judicial injusto, burocrático e desumano.
Protótipo de distopia na literatura, também o romance de Jorge Orwell “1984”, teve uma sua versão cinematográfica, homônima, com o britânico Michael Radford, mostrando uma sociedade submissa a um governo antidemocrático, beligerantes e controlador até da intimidade de cada cidadão.
Pela linha de programação CineCult, programado numa 5a feira mas perfeitamente em tema com o conceito da Distopia do ciclo mensal, o Cineclube apresentará o clássico de Glauber Rocha, Terra em Transe, que em plena ditadura, ao mostrar um fictício país latino-americano, denominado Eldorado, governado pelo déspota Diaz, enfrentou na época, problemas com a censura estabelecida no Brasil.
Sempre em Maio numa 5a feira de CineCult, um documentário brasileiro premiado no festival de Berlim, O Processo, sobre o processo de impeachment da presidente Dilma, com a presença do analista político Benedito Tadeu Cesar para mediar o debate sobre um dos eventos mais conturbados e controversos da história recente brasileira.
As exibições, que integram o projeto “Audiovisual é Arte, Cultura e Cidadania” realizado com recursos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul por meio do Pró-cultura RS FAC (Fundo de Apoio à Cultura) e apoio da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte de Torres, ocorrem no Auditório José Antônio Picoral, na atual Casa da Terra e antigo Centro Municipal de Cultura, às 20h, sempre com entrada franca.
Segunda dia 6/05 – 20h
Alphaville
1965 – Drama/Mistério – 1h 39m
A cidade de Alphaville é comandada pelo computador Alpha 60, que aboliu os sentimentos em seus habitantes. Lemmy Caution (Eddie Constantine) é um agente enviado ao local, com a missão de encontrar o professor Von Braun, criador de Alpha 60. Seu objetivo é convencê-lo a destruir a própria criação.
Direção: Jean Luc Godard.
Vencedor do prêmio Urso de Ouro (Melhor Filme) no Festival de Berlim, em 1965.
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Segunda dia 13/05 – 20h
1984
1984 – Drama/Fantasia – 1h 53m
Num regime repressivo e controlador, Winston Smith (John Hurt) é um funcionário público cuja função é reescrever a história de forma a colocar os líderes políticos sob uma luz positiva. Seu romance com uma mulher, Julia, proporcionam sua única fonte de felicidade, mas as emoções são consideradas ilegais e, numa sociedade totalitária que monitora de perto cada cidadão, não tem como escapar do controle do Grande Irmão.
Direção: Michael Radford.
Versão cinematográfica do clássico de George Orwell, ironicamente realizada exatamente no ano do título do livro.
Segunda dia 20/05 – 20h
Fahrenheit 451
1966 – Ficção Científica/Drama – 1h 52m
O filme é a adaptação do livro de Ray Bradbury sobre uma sociedade do futuro que baniu todos os materiais de leitura e onde o trabalho dos bombeiros é fiscalizar as habitações para confiscar e queimar todas as obras de papel. Um bombeiro começa a repensar esta sua função ao conhecer uma jovem encantadora que adora livros.
Direção: François Truffaut.
A trilha sonora é de Bernard Herrmann, o compositor favorito de Alfred Hitchcock.
Quinta dia 23/05 – 20h – Sessão CineCult / Clássicos Brasileiros
Terra em Transe
1967 – Drama – 1h 55m
O senador Porfírio Diaz (Paulo Autran) detesta seu povo e pretende tornar-se imperador de Eldorado, um país fictício localizado na América do Sul. Porém existem diversos homens que querem assumir o poder, enquanto o poeta e jornalista Paulo Martins (Jardel Filho), ao perceber as reais intenções de Diaz, muda de lado, abandonando seu antigo protetor. Um visionário retrato do caudilhismo da America Latina.
Direção: Glauber Rocha
Segunda dia 27/05 – 20h
O Processo
1962 – Drama/Mistério – 1h 59m
O Processo é uma versão do romance O Processo de Franz Kafka: numa certa manhã, Josef K. (Antony Perkins) é acusado de um crime sem sequer saber o que cometeu. Mesmo perante um cenário de um julgamento orquestrado e privado da possibilidade de defesa justa, ele tentará se defender deste tentacular e burocrático sistema judiciário numa jornada ao mesmo tempo heroica e desumana.
Direção: Orson Welles.
Quinta dia 30/05 – 20h – Sessão CineCult / Documentários
O Processo
2018 – Documentário – 2h 20m
O documentário mostra a crise política que afetou o Brasil desde 2013, sem nenhum tipo de abordagem direta, como entrevistas ou intervenções. Uma oportunidade para analisar, a distância de poucos anos, as imagens das votações e discussões que determinaram a destituição da presidente Dilma Rousseff e avaliar nesta perspectiva a atual conjuntura política.
Direção: Maria Ramos.
Sessão em parceria com a Vitrine Filmes e com a presença do cientista político Benedito Tadeu César, professor associado aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Cineclube Torres
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