Maio 68 foi um movimento político social breve, praticamente concentrado naquele mês de 1968, mas teve um impacto enorme que pautou toda uma revolução silenciosa da sociedade europeia, uma revisão quase completa de valores e de referenciais. Em termos políticos globais coincidiu com o recrudescimento da guerra do Vietnam, a primavera de Praga, o auge do maoismo com a Revolução Cultural, a eclosão das principais guerras pela descolonização na África e, no Brasil, o aumento de protestos contra a ditadura militar.
O movimento nasceu no seio do meio universitário francês, com o pretexto de contestar uma mudança no sistema educacional, mas já integrando um mosaico de questionamentos sobre o sistema político-econômico a nível global e sobre a sociedade tradicionalista da época. Em breve a “revolução de 68” partindo de Paris tomou as ruas e as praças de várias cidades francesas, invadiu as fabricas, juntou na luta jovens e a classe trabalhadora, e mesmo que a duração do movimento, em termos cronológicos, tenha sido breve, é impensável a sociedade atual sem as transformações consequentes ao Maio 68
Os filmes escolhidos procuram ilustrar a época a partir de vários pontos de vistas, realizados na época e também em tempos mais recentes, relendo os eventos de forma mais ponderada e distanciada.
Teremos portanto filmes quase sincrônicos, como com o clássico de Jean-Luc Godard “A Chinesa”, de 1967, que antecipa alguns aspetos do movimento, ou a obra do Suíço Alain Tanner, “Jonas que Terá 25 Anos no Ano 2000”, de 1976 e ambientado no rescaldo da transformação da sociedade pós-movimento.
Mas também haverá espaço para obras recentes de dois autores, o italiano Bernardo Bertolucci e o francês Olivier Assayas, que procuraram “a posteriori” reconstruir o quadro ideológico e os acontecimentos a partir de narrativas ambientadas naquele período e relacionadas com o cinema: respectivamente o italiano em “Os Sonhadores” de 2003 e o francês no filme autobiográfico “Depois de Maio”, já em 2012.
Em foco estará sempre o movimento que significou esperanças enormes e ao mesmo tempo desilusões tremendas, Maio 68, marcando de forma indelével a sociedade no seu todo, com ideias, imagens e slogans impactantes como “É proibido proibir”, “A imaginação no poder” e “Não quero perder minha vida ganhando-a”.
As sessões serão às segundas feiras, no Auditório José Antônio Picoral, na atual Casa da Terra e antigo Centro Municipal de Cultura, sempre às 20h, sempre com entrada franca.
PROGRAMAÇÃO:
Segunda Feira dia 7 de Maio – 20h – Auditório José Antônio Picoral
Depois de Maio (Après mai)
de Olivier Assayas
França – 2012 – Drama
O filme, autobiográfico, é ambientado já no início da década de 1970: o protagonista, Gilles é um jovem estudante imerso na atmosfera criativa e política da época e , como todos os seus colegas, está dividido entre o engajamento radical na luta política por interesses coletivos e a realização da sua vocação artística individual. Este conflito e esta busca interior, vivenciado entre descobertas amorosas e artísticas, o leva a sair de Paris rumo à Itália e ao Reino Unido, até ao Nepal, para poder encontrar as respostas mas sobretudo as questões, que serão essenciais para o resto da sua vida.
*
Segunda Feira dia 14 de Maio – 20h – Auditório José Antônio Picoral
A Chinesa (La Chinoise)
de Jean-Luc Godard
França – 1967 – Drama/Comédia dramática
Realizado pelo mestre Jean-Luc Godard antes de Maio 68, o filme retrata a tentativa de um grupo de jovens estudantes de aplicar, durante suas férias de verão, os princípios maoistas, em rotura com a sociedade burguesa e com os partidos comunistas ocidentais filo-URSS. Imersos no pensamento de Mao e na literatura marxista-leninista, um grupo de estudantes franceses questiona a sua posição no mundo e as possibilidades de mudá-lo, mesmo que isso signifique considerar o terrorismo como uma via possível.
*
Segunda Feira dia 21 de Maio – 20h – Auditório José Antônio Picoral
Jonas que Terá 25 Anos no Ano 2000 (Jonas qui aura 25 ans en l’an 2000)
de Alain Tanner:
França/Suíça – 1976 – Drama/Comédia dramática
Foi justamente definido como “um dos filmes com intenções políticas mais poéticos da história do cinema”, uma análise quase documental do conceito de família, no início da década de 70, num país como a Suíça, em plena normalidade capitalista apesar do Maio 68. Oito personagens (Pequenos Profetas nas palavras do autor), ligados de alguma maneira ao pequeno Jonas, cruzam as próprias existências, cada um simbolizando as utopias e os conceitos de uma revolução que tinha ficado à margem da sociedade.
*
Segunda Feira dia 28 de Maio – 20h – Auditório José Antônio Picoral
Os Sonhadores (The Dreamers)
de Bernardo Bertolucci
Itália/ França / Grã Bretanha – 2003 – Drama/Romance
Em Maio de 1968, um estudante americano está na França para um intercâmbio. Em uma das suas idas à Cinemateca Francesa, ele conhece os gêmeos Isabelle e Theo, de família burguesa e intelectual parisiense. Os três compartilham o amor pelo cinema, mas logo a relação se transforma em um atípico triângulo amoroso. A história é rica em extratos de filmes clássicos e da época e também elementos ou referências à Revolução Estudantil.
Cineclube Torres
Associação sem fins lucrativos
CNPJ 15.324.175/0001-21
Registro ANCINE n. 33764
Produtor Cultural Estadual n. 4917